Netflix em Destaque: A Cronologia de ‘O Poço 2’ e Como ‘Agente Stone’ Dominou o Streaming Ignorando as Críticas

O Enigma Cronológico de ‘O Poço 2’

O título ‘O Poço 2’ sugere uma continuação direta, mas o retorno de personagens que morreram no filme original, como Goreng (Iván Massagué) e Imoguiri (Antonia San Juan), gerou confusão entre os fãs sobre a linha do tempo deste universo. Em entrevista ao CINEMANÍA, o diretor Galder Gaztelu-Urrutia esclareceu a ordem cronológica do sucesso espanhol da Netflix de 2019.

Prelúdio e Sequência ao Mesmo Tempo

Segundo o diretor, o filme opera em duas frentes: “O Poço 2 começa como um prelúdio e termina exatamente no mesmo ponto ou até além da primeira parcela”. Ele explicou que a trama alcança o “nível sombrio e mandando a garota para cima”, concluindo neste ponto e explorando a relação entre Goreng e Perempuán (Milena Smit). A nova trama foca em Perempuán e Zamiatin (Hovik Keuchkerian), que enfrentam a dinâmica da prisão vertical onde uma figura misteriosa tenta impor uma nova ordem, desafiando as noções de justiça.

O Fim da Era dos Críticos de Cinema

A confusão e o debate gerados por ‘O Poço 2’ ilustram uma mudança fundamental na indústria, impulsionada pelas plataformas de streaming, que redefiniram como o sucesso é medido. Houve um tempo em que as críticas em jornais podiam determinar o sucesso ou o fracasso de um filme. Esses dias acabaram, e o streaming foi o principal responsável. Na era pré-internet, o público dependia dessas análises para decidir o que assistir. Embora as reações online e nas redes sociais tenham mudado esse cenário, permitindo que as pessoas confiassem nos seus pares, foram as plataformas de streaming que consolidaram a transformação.

O Modelo de Assinatura e o ‘Risco Zero’

O modelo de assinatura, com uma taxa mensal fixa para acesso ilimitado, eliminou o risco financeiro para o espectador. Não é mais preciso pagar por cada filme assistido, o que diminui a necessidade de consultar críticas. O público pode simplesmente assistir e formar a própria opinião. O único obstáculo para os estúdios é capturar a atenção do espectador em meio a bibliotecas com milhares de títulos. Isso explica por que filmes brilhantes sem atores famosos podem passar despercebidos, enquanto produções medianas estreladas por grandes nomes se tornam sucessos de audiência.

‘Agente Stone’: Sucesso de Público, Fracasso de Crítica

Um dos melhores exemplos dessa tendência é o thriller de espionagem de 2023, ‘Agente Stone’ (Heart of Stone). Estrelado por Gal Gadot e promovido como um rival de ‘Missão: Impossível’, o filme tinha um enredo que parecia saído da franquia de Tom Cruise: Gadot como uma agente de inteligência protegendo um misterioso sistema de IA chamado “O Coração”. Apesar da presença de estrelas como Glenn Close, os críticos não aprovaram, dando ao filme apenas 31% no agregador Rotten Tomatoes. O consenso criticou “personagens superficiais, trama genérica e cenas de ação rotineiras”. O público também não foi generoso, com 50% de aprovação.

O Poder da Plataforma

Apesar da recepção negativa, o filme disparou nos rankings da Netflix. Em apenas dois dias, alcançou o primeiro lugar na lista de língua inglesa da plataforma, com 33,1 milhões de visualizações. Ao final do ano, tornou-se o segundo filme mais assistido na Netflix na segunda metade de 2023, acumulando 109,6 milhões de visualizações.

O Custo Real do Blockbuster

‘Agente Stone’ também se destacou por seu custo exorbitante, sendo um dos filmes mais caros já feitos pelo streamer, com um orçamento de 220 milhões de dólares. Embora estimativas anteriores, como a do ScreenRant, mencionassem “mais de 150 milhões de dólares”, o valor real veio à tona. Embora a trama se passe em locais exóticos, da Itália à Islândia, a produção foi filmada principalmente nos Estúdios Shepperton, em Londres, e isso expôs seus custos.

Como o Sistema Tributário do Reino Unido Expôs os Gastos

Enquanto os estúdios nos EUA mantêm os custos dos filmes em segredo, consolidando-os em suas despesas gerais, no Reino Unido a história é outra. As produções filmadas lá buscam o Crédito de Despesa Audiovisual (AVEC) do governo, que oferece um reembolso em dinheiro de até 25,5% do valor gasto no país. Para se qualificarem, os filmes precisam atender a vários critérios e comprovar que pelo menos 10% dos custos principais ocorreram no Reino Unido. Para demonstrar isso, os estúdios criam uma Empresa de Produção Cinematográfica (FPC) separada para cada projeto.

Os Documentos Financeiros Públicos

Essas FPCs são obrigadas a registrar declarações financeiras públicas, revelando precisamente os custos de produção. Embora essas empresas usem codinomes para evitar a atenção dos fãs, jornalistas especializados em finanças da indústria cinematográfica conseguem rastrear e ligar os codinomes às produções. Foi através desses documentos públicos no Reino Unido que o verdadeiro orçamento de ‘Agente Stone’ foi descoberto, confirmando o enorme investimento da Netflix em um filme que provou que, na era do streaming, o poder da estrela e o marketing da plataforma superam qualquer crítica negativa.